29 de ago. de 2009

CÁLICE (Gilberto Gil/Chico Buarque)

Pai, afasta de mim esse cálice
Pai, afasta de mim esse cálice
Pai, afasta de mim esse cálice
De vinho tinto de sangue

Como beber dessa bebida amarga
Tragar a dor, engolir a labuta
Mesmo calada a boca, resta o peito
Silêncio na cidade não se escuta
De que me vale ser filho da santa
Melhor seria ser filho da outra
Outra realidade menos morta
Tanta mentira, tanta força bruta

Como é difícil acordar calado
Se na calada da noite eu me dano
Quero lançar um grito desumanoQ
ue é uma maneira de ser escutado
Esse silêncio todo me atordoa
Atordoado eu permaneço atento
Na arquibancada pra a qualquer momento
Ver emergir o monstro da lagoa

De muito gorda a porca já não anda
De muito usada a faca já não corta
Como é difícil, pai, abrir a porta
Essa palavra presa na garganta
Esse pileque homérico no mundo
De que adianta ter boa vontade
Mesmo calado o peito, resta a cuca
Dos bêbados do centro da cidade

Talvez o mundo não seja pequeno
Nem seja a vida um fato consumado
Quero inventar o meu próprio pecado
Quero morrer do meu próprio veneno
Quero perder de vez tua cabeça
Minha cabeça perder teu juízo
Quero cheirar fumaça de óleo diesel
Me embriagar até que alguém me esqueça

Essa música, composta por Gil e Buarque é cheia de duplos sentidos e metáforas. A começar pelo título: "Cálice" (que na verdade quer dizer "cale-se") refere-se claramente, de uma maneira mesmo que subjetivada à censura da arte.

O 1º VERSO: O pedido ao "Pai" - a Deus - de afastar o "cálice", deve ser lido como uma súplica aos céus pelo fim da censura, "de vinho tinto e sangue" (marcado pela violência).

O 2º VERSO: Trata da dor de ter que engolir toda a repressão de idéias; Refere-se à angústia causada por não poder viver e falar seus sentimentos; Por fim, questiona não ser filho de "uma realidade menos morta" (questiona não ser filho de uma ignorância) - que lhe traria menos dor. ("Tanta mentira, tanta força bruta");

O 3º VERSO: Fala da dificuldade de permanecer calado, de ter que ficar vendo os fatos acontecerem da arquibancada.

O 4º VERSO: Cansado e frustrado, mesmo com boa vontade, sabe que não vai adiantar falar só pra si. Ele sabe que não vai alcançar o pensamento "dos bêbados do centro da cidade" (dos embriagados pela política).

O ÚLTIMO VERSO: Desiludido, ele quer perder de vez a cabeça e júizo, fumar, beber, e esquecer a dor

-Adriana Gabinio

28 de ago. de 2009

Perseguição

Durante o período ditatorial no Brasil foi criada a Divisão de Censura de Diversões Públicas (DCDP), para censurar a arte e derivações. Todas as músicas deveriam passar por essa divisão antes de passar a circular em meio público.

Alguns representantes da MPB eram vistos como "inimigos do sistema", antes mesmo do período em que a arte passou a ser censurada no país (AI-5, 1968), entre eles Caetano Veloso e Gilberto Gil.

Ambos irreverentíssimos tropicalistas baianos estavam mais inclunados na contestação social (contracultura) do que na contestação do regime militar. Mas os militares não souberam identificar esta diferença, perseguindo Caetano Veloso e Gilberto Gil pela irreverência constrangedora que causavam.

Na época da prisão dos dois cantores, em dezembro de 1968, os militares tinham de concreto contra eles, a acusação de que tinham desrespeitado o Hino Nacional, cantando-o aos moldes do tropicalismo na boate Sucata, e uma ação que queria mover um grupo de católicos fervorosos, ofendidos pela gravação do “Hino do Senhor do Bonfim” (Petion de Vilar – João Antônio Wanderley), no álbum “Tropicália ou Panis et Circenses” (1968). Juntou-se a isto a provocação de Caetano Veloso na antevéspera do natal de 1968, ao cantar “Noite Feliz” no programa de televisão “Divino Maravilhoso”, apontando uma arma na cabeça. O resultado foi a prisão e o exílio dos dois baianos em Londres, de 1969 a 1972.
(Ref.: http://virtualiaomanifesto.blogspot.com/2008/07/msica-e-censura-da-ditadura-militar.html)

Adriana Gabinio

12 de ago. de 2009

A Ditadura

A partir da época da ditadura, é preciso olhar pra Gilberto do outra forma:
Não diferente de muitos que se pode citar, até antes de 67, ele se destacava como ótimo compositor e excelente intéprete. Mas ao unir esse talento com a vontade e rebeldia em tempos de Regime Militar, Gilberto passou não só a expressar o sentimento de uma nação jovem, mas a distribuir idéias de autonomia e liberdade para quem quisesser (ou conseguisse) ouvi-lo.

Além de fazer isso, ao se juntar com outros artistas - Caetano Veloso, Gal Costa, Maria Bethania- nasce o TROPICALISMO.

(Por: Adriana Gabinio)

Nascimento e Juventude

Gilberto Passos Gil Moreira nasceu em Salvador e passou a infância em Ituaçu, no interior da Bahia, onde começou a se interessar pela música ouvindo Orlando Silva e Luiz Gonzaga.
Aos 9 anos, mudou-se para Salvador e começou a aprender acordeom. Aos 18 anos, formou o conjunto "Os Desafinados". No fim dos anos 1950, influenciado por João Gilberto, passou a tocar violão.
Durante a faculdade de administração de empresas, conheceu a música erudita contemporânea. Em 1962, gravou o seu primeiro compacto solo e conheceu Caetano Veloso, Maria Bethânia e Gal Costa. No ano seguinte, com Tom Zé integrando o grupo, fizeram o show "Nós, Por Exemplo", no Teatro Vila Velha, em Salvador. (Fonte: http://educacao.uol.com.br/biografias/ult1789u414.jhtm)

( Eugenia, Thereza; 1972- Gilberto Gil)



-Adriana Gabinio